Sempre gostei de
lembrar que duas grandes emoções me marcaram nessa já longa jornada que me
levou a percorrer caminhos íngremes e estradas luminosas, pontilhada de abismos
e ascensões, mais ascensões do que abismos. A primeira foi quando subi as
escadarias do Liceu Paraibano, para iniciar o curso ginasial, munido de uma
credencial poderosa, que foi minha aprovação num rigoroso exame de seleção,
equivalente sem exagero a uma prova de vestibular dos dias de hoje.
Biu Ramos em momento de autógrafo na Livraria do Luiz (foto Marcos Russo/A União)
Tinha deixado a
Escola Industrial de João Pessoa, atualmente Instituto Federal de Ensino
Tecnológico, por absoluta falta de opção por um curso compatível com a minha
vocação, minhas aptidões e os meus desejos. Da Escola, fui para o Ginásio Solon
de Lucena, onde demorei pouco, porque não tinha como pagar as
mensalidades. A única solução era ingressar no Liceu, que oferecia ensino
gratuito e da melhor qualidade, e exibia um quadro de professores altamente qualificados,
todos eles absorvidos pela Universidade da Paraíba, desde a sua criação. O
Liceu, em si, já era uma universidade. Isso nos idos de 1956.
Desses tempos,
guardo recordações desvanecedoras, de colegas com quem convivi e da intensa
militância na política estudantil, que, de certo modo, me fez abandonar os
estudos em conseqüência de um congresso promovido pela União Brasileira
dos Estudantes Secundários, quando fui eleito secretário-geral da entidade,
obrigando-me a permanecer no Rio de Janeiro durante dois anos consecutivos. Um
dos principais líderes estudantis da época era Marcus Odilon Ribeiro
Coutinho, que também estudava no Liceu e já deixava aflorar a sua
incoercível vocação de liderança, elegendo-se presidente da Associação dos
Estudantes Secundários da Paraíba - AESP – tendo como companheiros de
diretoria, entre outros, José Martinho Lisboa, hoje desembargador aposentado,
que foi quem presidiu a nossa delegação ao Congresso da UBES, destacando-se
pela habilidade e discernimento
Depois de cumprido
o mandato, retornei a João Pessoa, mas com a determinação de me firmar no
jornalismo, procurando concretizar uma vocação nata, à qual consagraria toda a
minha vida, desde que ingressei como foca no Correio da Paraíba, nos idos de
1954.
Com o tempo, a
minha memória do Liceu foi se desvanecendo, em virtude da passagem fugaz pelas
suas salas, que durou menos de dois anos, e pela gama de episódios e
acontecimentos que foram se acumulando ao longo de minha trepidante trajetória
pelas redações de todos os jornais, estações de rádio e emissoras de TV de João
Pessoa. Personagens que nunca se diluíram de minhas lembranças, foram
Daura Santiago Rangel, que não me fez perder o medo – verdadeiro pânico – da
matemática, mas me marcou como uma educadora excepcional, e uma
mulher de raras qualidades morais e espirituais. A simples convivência com ela
em sala de aula, teve grande influencia na formação do meu caráter.
Outros nomes que
ficaram foram os de Gibson Maul de Andrade, seu diretor numa crise episódica,
mas que não possuía maturidade, experiência e humildade para o exercício do
difícil mister. José Maria Gomes, que eu já conhecia do Solon de Lucena, e que
veio a ser um dos diretores mais eficientes do Liceu Paraibano, pelo seu
caráter e rigor de suas atitudes e decisões. Ocorre-me também os nomes dos
professores Manuel Cavalcanti, Milton Delone, com suas gravatas extravagantes,
e de Dilermano Luna, uma das inteligências mais cintilantes com quem convivi,
tanto no Liceu como nas rodas intelectuais de João Pessoa, onde pontificava
como um raro exemplo de erudição e sólida formação acadêmica.
***
A outra grande
emoção de minha vida foi quando adentrei, pela primeira vez, os salões
majestosos do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em
companhia de Celso Furtado, então ministro da Cultura de José Sarney. Eu
era secretário da Cultura do governo de Tarcísio Burity, em 1986, e fui
acompanhar a assinatura de um convenio com o governo espanhol para a restauração
do Centro Histórico de João Pessoa. Coisa que pouca gente sabe ou, se
sabe, faz questão de não lembrar.
Mas isto
é outra história.
O importante
é que emoções eu vivi.
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