domingo, 15 de julho de 2012

Liceu Paraibano – Alunos e Mestres Notáveis, Ontem e Hoje


Por: Josélio Carneiro

Liceu Paraibano – Alunos e Mestres Notáveis.  A mais tradicional escola pública da Paraíba completou 176 anos no dia 24 de março deste ano de 2012. Participe deste blog com opiniões, depoimentos, fotos, artigos, sugestões. Contato: liceuparaibano@gmail.com

Além de paraibanos, o que têm em comum Celso Furtado, Irineu Pinto, Elba Ramalho, Augusto dos Anjos, Antonio Mariz, João Pessoa, Lauro Pires Xavier, Linduarte Noronha, Flávio Tavares, Ascendino Leite, Humberto Lucena, Biu Ramos, Argemiro de Figueiredo, José Octávio de Arruda Mello, Martinho Moreira Franco, e tantas outras personalidades?  A resposta é a seguinte: todos eles estudaram no Liceu Paraibano, um dos mais antigos educandários do Brasil e a mais tradicional escola pública da Paraíba.

O Liceu hoje em foto de Josélio Carneiro



Eu, há alguns anos organizo o livro 'Liceu Paraibano – Alunos e Mestres Notáveis’, (em fase de revisão). A obra destaca a trajetória de diversos paraibanos, ex-alunos do Liceu que se tornaram pessoas públicas na política, na literatura, nas artes, alguns inclusive chegando a ocupar o cargo de governador da Paraíba.  Na sequência, algumas curiosidades sobre o Liceu, a partir da obra História do Lyceu Parahybano, de José Rafael de Menezes.

O orgulho de ser liceano

Não estudei no Liceu mas este trabalho jornalístico objetiva resgatar um pouco da história do Liceu e de alguma maneira contribuir com o despertar de gerações de jovens que estudaram e de gerações que estudam hoje na escola-símbolo da Rede Pública Estadual.
 Um despertar para um sentimento de orgulho do colégio que foi berço da cultura, do jornalismo, enfim, da intelectualidade paraibana. Matriz intelectual sim porque em debates, em conversas nos ambientes do Lyceu foram concebidos o centenário Jornal A União e o IHGP – Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba. Dentre tantas outras ações no âmbito da educação e cultura.

O Liceu

Vale situar o leitor sobre o perfil do Liceu. Reproduzimos aqui tópicos da obra de José Rafael de Menezes, “História do Lyceu Parahybano”, publicada em 1983. O autor já é falecido. Foi através do padre-mestre José Antonio da Silva Lopes, que o Conselho Geral da Província tomou conhecimento aos 19 de dezembro de 1832 de um projeto criando o Lyceu Parahybano. Uma dezena de padres-mestres foi responsável pela evolução administrativa da escola, que começou com o padre João do Rego Moura e perdurou até o Monsenhor Odilon Coutinho. A escola foi criada em plena Monarquia pela Lei nº11 de 24 de março de 1836, sancionada pelo vice-presidente da Província, Manoel Maria Carneiro da Cunha, a partir de decreto da Assembléia Provincial da Parahyba do Norte. De acordo com a obra do professor José Rafael de Menezes, vejamos o que diz o Art. 1º da Lei, com grafia da época:
“Fica criado nesta cidade um Lycêo, que será composto dos professores das cadeiras de Latim, Francez, Rhetorica, Philosophia, e primeiro anno de Mathematica, já creadas na mesma cidade, de dous substitutos, um para estas duas ultimas cadeiras, e outra para as tre primeiras, e finalmente de um porteiro. Define o mesmo decreto que “O Lycêo será collocado no 1º andar do edifício, em que presentemente se reúne a Assembléia Legislativa Provincial.

O prédio atual, no formato de um navio, localizado na avenida Getúlio Vargas, centro de João Pessoa, foi inaugurado em 1937 na gestão de um ex-aluno do Liceu, o campinense Argemiro de Figueiredo, que sentou nos bancos daquela conceituada escola nos idos de 1916. De 1836, ano de sua fundação, a 1936, portanto durante um século, o Liceu funcionou no antigo Convento de São Gonçalo (atual Faculdade de Direito), ao lado do Palácio da Redenção. Este mesmo prédio já abrigou no passado Tesouraria da Fazenda e a Assembleia Legislativa.

Hoje o Liceu Paraibano funciona com 18 salas de aula, nos três turnos e oferece 2.500 vagas a alunos do ensino médio, além de biblioteca, auditório, ginásio de esportes e laboratórios de informática, química, física e biologia.



Governadores
O jovem aluno ANTONIO Marques da Silva MARIZ, em foto na ficha de matrícula em 1953, na 1ª série do Científico, aos 16 anos de idade

Diversos ex-alunos do Liceu se tornaram governadores da Paraíba, dentre eles Ruy Carneiro, Antonio Mariz, Álvaro Lopes Machado, Ernani Sátyro, Wilson Braga e João Pessoa. No Império e na República Velha, praticamente todos os homens públicos na Paraíba marcaram presença no Liceu como alunos, professores ou diretores. Solon Barbosa de Lucena foi diretor mais de uma vez e em outra época governou o estado, a exemplo de Antonio Alfredo da Gama e Melo e Álvaro de Carvalho.


Visita de Dom Pedro II e do poeta Gonçalves Dias

Em 1852, o poeta maranhense Gonçalves Dias, por determinação do imperador Dom Pedro II, percorreu a região inspecionando escolas públicas. Na avaliação do inspetor imperial o Liceu Paraibano estava entre as três primeiras escolas da região, ao nível do Pará, Ceará e Maranhão, e superado pelos liceus da Bahia e de Pernambuco.  No ano de 1859 o Liceu (prédio da atual faculdade de Direito) recebeu a visita do Imperador Dom Pedro II, que passava pela Província. Ele esteve em Mamanguape e Pilar.

Fundação do IHGP

No ano de 1906 o ex-aluno Irineu Pinto, fundou, nas dependências do Liceu, junto com amigos, o Instituto Histórico e Geográphico Parahybano (IHGP). No governo Castro Pinto (1912-1915) os alunos fundaram a revista Liceum, publicação mensal que circulou por pouco tempo. Entre 1850 e 1929 a sociedade paraibana foi liceana, revela o autor do livro “História do Lyceu Parahybano”, Rafael de Menezes. A obra foi publicada em 1983 pela Editora da UFPB. “Por meio século, o Liceu foi a única instituição cultural capaz de reunir homens de estudos e líderes comunitários letrados, Província da Parahyba”, diz Rafael de Menezes, em seu livro.
Abaixo, um resumo da trajetória de três liceanos: o economista Celso Furtado, um dos paraibanos mais conceituados no mundo; o presidente João Pessoa e o poeta Augusto dos Anjos, escolhido como o paraibano do século.

Os 100 anos do Lyceu Parahybano

Aqui mais tópicos da obra de Rafael de Menezes. Entre 22 e 30 de março de 1936 houve modestas comemorações dos 100 anos do Lyceu. O Jornal A União publicou no dia 24 de março daquele ano o que disse o então diretor da escola Matheus de Oliveira, em ato comemorativo: “À margem da data tão cara aos que estimam e servem à Parahyba, rendemos neste momento, merecida homenagem aos docentes do Lyceu, que durante o largo período de cem annos illuminaram os espíritos de tantas gerações”.
Na mesma edição de A União o professor de Ciências Naturais, Oscar de Castro, afirmou ser a história do Lyceu “um século de civilização na Parahyba”. Mais tarde, nos anos 40, Oscar de Castro seria o líder intelectual das grandes iniciativas daquela década.


Lyceu conquista famílias estrangeiras

De 1930 a 1950 os estrangeiros que vieram morar na Parahyba matriculavam seus filhos no Lyceu. Alguns se tornavam professores de línguas e ciências como os Kauffman, os Von Sohsten. As famílias italianas Di Lascio, Zacarra, Maglianos, Gioya, e Grizzi, também se integraram à sociedade paraibana a partir da comunidade lyceana.
Os anos passam e nasce na década de 50 a Universidade Federal da Paraíba, com José Américo de Almeida, ele que assumiu a Reitoria na Faculdade de Filosofia que funcionava em dependência do Lyceu Parahybano, a matriz intelectual formadora de humanistas.

A seguir, uma síntese de três ex-alunos do Liceu, o economista Celso Furtado, o presidente João Pessoa e o poeta Augusto dos Anjos.

Celso Furtado

“No Liceu Paraibano havia um seminário de confrontação de idéias e recordo-me de que fiz uma conferência, citei Max Beer e outros escritores de esquerda. Os integralistas caíram em cima de mim com críticas acerbas”.  As declarações acima são do economista Celso Furtado publicada no ano 2000 na revista Celso aos 80, por ocasião do “Seminário Celso Furtado e o Pensamento Latino Americano”. O evento marcou os 80 anos do idealizador da Sudene. Vejamos outro depoimento do mestre Furtado: “O período que vai de 1930 a 1937, quando ingressei no mundo como pessoa pensante, foi extraordinariamente rico no Brasil, porque o país reencontrou-se com seus problemas”.

Nascido aos 26 de julho de 1920 na cidade de Pombal, Sertão paraibano, Celso Furtado iniciou os estudos secundários no Lyceu Parahybano em 1932, aos doze anos de idade. Foi contemporâneo, nos bancos do Liceu, do jovem Ascendino Leite. Celso Furtado concluiu os estudos em Recife, no Ginásio Pernambucano, porque naquela época não havia no Liceu o curso completo.

No Liceu o futuro criador da Sudene aprendeu inglês e francês. Na tradicional escola, o adolescente foi um dos líderes do movimento de esquerda. Segundo ele próprio, “líder puramente intelectual porque não tinha qualquer atividade política”. Consideramos ele o mais importante intelectual paraibano, na nossa modesta opinião, o cidadão do mundo é o Paraibano do Século XX.



Augusto dos anjos, aluno e professor


O poeta Augusto dos Anjos iniciou os estudos de humanidades no Lyceu Paraibano, em 1900, aos 16 anos de idade. Seus estudos iniciais foram em casa, no Engenho Pau-d’Arco, município de Cruz do Espírito Santo-Pb, e seu pai, Alexandre Rodrigues dos Anjos, foi seu professor. Os mestres ficaram impressionados com os conhecimentos do adolescente, porque, sem ter freqüentado a escola regular, sabia mais que os outros colegas.
  
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, nasceu aos 20 de abril de 1884. Sua mãe se chamava Córdula. Em 1901 publicou seus primeiros poemas no jornal O Comércio, e em A União. Seu ingresso na Faculdade de Direito do Recife ocorreu em 1903. No ano de 1907, já formado em Direito, Augusto dos Anjos dava aulas particulares de Português e isto garantiu sua sobrevivência por vários anos. A nomeação para o cargo de professor interino do Lyceu Paraibano se deu em 1908. Lecionou por apenas dois anos.  Em 1910, o poeta casou-se com a professora Ester Fialho. O casal teve os filhos Glória e Guilherme.
  
O poeta pediu ao então governador, João Machado, licença para ir ao Rio de Janeiro, sem perder o emprego de professor. A licença foi negada. Augusto dos Anjos resolve deixar o Lyceu e muda-se para o Rio de Janeiro. Na então capital federal ensinou na Escola Normal e em seguida no tradicional Colégio Pedro II. Seu único livro “EU”, foi publicado em 1912, com apenas 1.000 exemplares. A obra teve grande impacto na crítica.
No ano de 1914, em Leopoldina, Minas Gerais, Augusto dos Anjos é nomeado diretor do grupo escolar Ribeiro Junqueira. No dia 12 de novembro daquele ano morre vítima de pneumonia.
  
No ano 2000 A União publica a série Paraíba – Nomes do Século. A plaquete nº38, escrito pelo jornalista e poeta Linaldo Guedes, foi sobre a vida e obra de Augusto dos Anjos. Em 2001 Augusto dos Anjos foi eleito em votação popular, o Paraibano do Século. Hoje em dia dezenas de sites na rede mundial de computadores tratam sobre a poesia de nosso poeta maior, que foi aluno e professor do Lyceu.  

João Pessoa

João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque nasceu na cidade de Umbuzeiro, Cariri paraibano, em 24 de janeiro de 1878. Morreu em 26 de julho de 1930, no Recife, na Confeitaria Glória, assinado pelo advogado João Dantas. O futuro presidente da Paraíba, depois de sua terra natal também morou em Cabaceiras e Guarabira. Na companhia do tio Epitácio Pessoa, chegou ao Rio de Janeiro em 12 de novembro de 1889, três dias antes da Proclamação da República. Ao retornar à Paraíba fez seu curso de humanidades no Lyceu Paraibano.

No ano de 1894 alistou-se no 27º Batalhão de Infantaria, na capital paraibana. No ano seguinte ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro. Serviu em seguida no 4º Batalhão de Artilharia de Posição, em Belém do Pará. Com problemas de saúde, devido maus tratos na vida militar, foi excluído em 1898, por incapacidade física. Passou necessidades e finalmente, com a ajuda da família chegou a Cabedelo em um navio do Lóide. Formou-se em Direito no Recife em 1903. No ano de 1905 João Pessoa casou-se com Maria Luiza de Souza Leão Gonçalves.

Em 1907 fez viagem de quatro meses a dez países, entre eles: Inglaterra, França, Portugal, Alemanha, Holanda e Itália. Em 1909 vai morar no Rio de Janeiro.  Em 1913 se tornou auditor-geral da Marinha. No ano de 1919 assumiu interinamente o cargo de ministro do Supremo Tribunal Militar. De 1920 a 1928 foi ministro titular daquela alta Corte de justiça.

Em 1924, teve seu nome lembrado para o Governo da Paraíba. Não teve interesse e, junto com o tio Epitácio Pessoa, defendeu o nome de João Suassuna, que assumiu o Executivo Estadual. Por insistência de Epitácio, João Pessoa acabou aceitando a indicação e foi eleito presidente da Paraíba no dia 22 de junho de 1928.

Depois de chegar do Recife o corpo de João Pessoa foi velado na Catedral Metropolitana e no dia 1 de agosto foi embarcado no navio Rodrigues Alves com destino ao Rio de Janeiro, então capital da República, onde o presidente tinha residência fixa. O Governo da Paraíba construiu no jardim lateral do Palácio da Redenção, há alguns anos, o mausoléu que recebeu os restos mortais de João Pessoa.


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